PROJETO - ALFALETRANDO SENTIMENTOS
Residentes participantes : Cíntia Tonini, Cristiano de Oliveira Pereira e Mônica Demeda de Almeida
O projeto foi realizado na Escola Municipal Caldas Júnior localizada na zona urbana do município de Caxias do Sul, à Rua Ottone Bassanesi, 225, Bairro Petrópolis.
A Escola Municipal Caldas Júnior é uma escola de médio porte com uma boa estrutura física e de pessoal; os estudantes, em geral, são assíduos às aulas, são participativos das programações e festividades da escola, reconhecendo a importância da mesma e sua função social. A grande maioria dos estudantes tem pais participativos que acompanham o desempenho escolar de seus filhos e vêm para a escola quando solicitados.
Devido a pandemia da COVID-19, novas estratégias precisaram ser criadas para a continuidade do aprendizado, no caso, as aulas remotas, porém apesar de uma boa participação das famílias e dos estudantes, há uma preocupação com a saúde física e a saúde mental de toda a comunidade escolar. O longo confinamento, a falta de contato pessoal com os colegas e com os professores, o medo de ser infectado, em alguns casos, a falta de espaço em casa, a falta de atividade física, enfim, todos os problemas decorrentes desta doença que atingiu o mundo, fez com que enquanto sociedade, repensássemos vários aspectos importantes em nossa vivência, principalmente o que nos é importante de forma estrutural, entre estas reflexões estão nossos valores.
1.1 O Ensino, a Educação e a Pandemia
Durante os séculos XX e XXI a escola básica brasileira passara por profundas transformações e logrou, ainda que apenas no limiar deste milênio, atingir praticamente toda a população em idade de freqüentar o ensino compulsório (BARRETO, 2001), tais mudanças ainda se dão em função do modelo econômico estabelecido e da cultura de cada comunidade a qual o ensino é estabelecido. No presente momento, em vista a pandemia da COVID-19, se faz necessário um novo olhar, não só em relação a forma de ensinar, mas ao que ensinar, o como avaliar e construir laços com os alunos, pais, colegas, escola, já que essas interações sociais são tão importantes quanto o conteúdo formal propriamente dito. Tais necessidades nos levam a um grande desafio: trabalhar o letramento à distância, contando com a ajuda dos pais ou responsáveis e levando em conta todas as desigualdades sociais existentes. FAVERO, GUERRA, SANTOS e DELAZERI (2017, pg. 10) tratam que na Educação Infantil, "o letramento possui estreita ligação com a brincadeira, enquanto que no uso da linguagem escrita há relações de poder", o que nos relembra a importância da interação social e o brincar neste processo, bem como a importância da interação entre família e escola.
Mas o que é ensinar?
Morais (1986) trata que a palavra ensinar vem do latim “in signare” – que significa marcar com um sinal, o que pode ser entendido como ensinar é deixar marcas (de vida, de conhecimento, de amizade, questionamentos…).
No livro Pedagogia da Autonomia, Paulo Freire (2004) nos diz que não há docência sem discência – ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção.
Hoje, ensinar deixa de ser o ato de transmitir conhecimento e passa a ser o de criar ambientes de aprendizagem, para que o aluno possa interagir com uma variedade de situações e problemas, construindo novos conhecimentos (VALENTE, 2002, p.24).
A dinâmica da sala de aula mudou, o professor passou a ser um mediador onde docente e o discente estão em permanente diálogo de aprendizagem. Frente aos tempos de isolamento social, a sala de aula passou a ser uma tela de computador ou celular, aonde temos de nos reinventar e encontrar modos de propiciar um ensino de qualidade, de motivar os alunos e construir pontes com os alunos e seus familiares (PALÚ, SCHÚTZ & MAYER, 2020).
Porém, para essa nova forma de ensinar, observamos a necessidade de romper alguns paradigmas:
1. Transcender o ensino como sinônimo de instrução – ensinar, exige conhecimento, responsabilidade, ética e não a mera transferência de conhecimentos (Pasqualini, 2010);
2. Apenas o professor é quem ensina e o ensino ocorre apenas na escola – se aprende com todos e em todos os lugares (cidade educadora), (Paetzold, 2006).
3. Tempos de ensino: formal e legalmente organizado em níveis e períodos e ao final de todas a etapas o sujeito estaria pronto. Hoje precisamos entender que a formação deve ser continuada porque somos seres inacabados em constante formação (FREIRE, 2005).
Por que ensinar e pra que ensinar?
Se ensina para que saibam ler e escrever? Para passar em concursos? Ter uma profissão? Em tempos passados, sim. Mas hoje, se ensina para que os sujeitos adquiram conhecimentos, interajam com esses conhecimentos, criem novos saberes,, sejam capazes de conhecer a si mesmos, interagir com os outros, conhecer o mundo, para que possam agir com discernimento, ter uma visão crítica das coisas e tenham atitudes responsáveis para si e para a sociedade como um todo (Rodrigues, 2001).
Essa nova visão, nos leva aos quatro pilares da educação propostos por Delors (2015):
Aprender a Conhecer – adquirir os instrumentos de compreensão;
Aprender a Fazer – para poder agir sobre o meio;
Aprender a viver juntos – a compreensão do outro;
Aprender a ser – desenvolvimento da personalidade, capacidade de autonomia, discernimento e responsabilidade social.
A educação formal basicamente sempre se ocupou do aprender a conhecer e em menor escala do aprender a fazer, se quisermos mudanças significativas na educação, precisamos integrar os quatro pilares de Delors (2015). Urge trabalharmos com o aprender a viver juntos e o aprender a ser.
Foi pensando nesses pilares e na proposta da escola para a Educação Infantil que surgiu o projeto Valores, pois sabemos que a educação de valores é fundamental para as boas relações e o bem viver. Buscamos, através de atividades lúdicas e divertidas, que as crianças passem a fazer parte deste mundo com mais confiança, participação, empatia, contribuindo para uma sociedade mais justa, humana e feliz.
Em vista dos desafios que o ano letivo nos infere, devemos enfatizar o letramento nas escolas. Como as crianças poderão se apropriar do letramento em um ano desafiador? Como nos colocamos diante deste contexto? O propósito é não deixar de lado a alfabetização, e sim levar aos estudantes atividades que agregam para seu ensino aprendizagem, conciliando ao projeto "valores".
Em função do advento da pandemia de COVID19, percebemos a necessidade de adaptação das aulas que costumavam ser presenciais para um contexto assíncrono (estudos monitorados a distância), em que o papel do pai e cuidador se torna essencial para o desenvolvimento da criança. Como tratam LINHARES & ENUMO (2020, p.3), “no caso da Educação Infantil, a educação à distância priva a criança de experiências concretas em um espaço coletivo compartilhado e de relações proximais”, ao menos quando se trata de pares de mesma faixa etária. Visto esta dificuldade, o professor na educação infantil passa a ter um papel de orientador para que pais e familiares que se encontram no mesmo espaço que a criança, possam se comprometer em auxiliar nas atividades.
A família tem uma função essencial no aprendizado de valores para as crianças, uma vez que os valores em um primeiro momento, são transmitidos através de nossa família. Como, por exemplo, como nos portamos à mesa, diante de estranhos, na rua, como falar, andar, correr, brincar. A família exerce uma função muito importante, pois ela é responsável pelo desenvolvimento de cada indivíduo, é através dela que serão transmitidos os valores, morais e sociais que serão bases para o processo de socialização da criança trazendo costumes e tradições através de gerações. Este projeto tem por objetivo a orientação da família que reside junto a criança para o ensino de valores, através de atividades lúdicas.
Estrutura do Projeto
As atividades estão divididas em dias da semana, uma vez que a escola tem vários residentes para a turma e as atividades são redigidas e enviadas para o período de duas semanas de aula. Dessa forma, cada residente fica responsável por (2) planos de aula, completando um total de 11 planos, indicados para 11 dias letivos dentro destes quinze dias.
Faixa etária de todos os planos: 05 e 06 anos - Pré
Objetivos Gerais do Projeto
Desde a infância, percebemos a importância de ensinarmos as crianças a cultivar os valores no dia-a-dia. Estes valores têm uma grande importância no meio social e são fundamentais para que elas tenham um bom relacionamento com amigos, pais, professores e seu meio geral. É um aprendizado importantíssimo que estas aprendam a dizer obrigado, desculpas, com licença e por favor (LIMA & SANTOS, 2018).
O objetivo principal desse planejamento é instigar o desejo nas crianças para que aprendam a respeitar o seu semelhante, bem como aprender a escutá-lo e passe a entender seu espaço de fala e de escuta nas relações sociais. Tais objetivos são visados:
Aprender a ser solidário,
Aprender a ser mais tolerantes;
Trabalhar em equipe;
Compartilhar ou socializar o que sabem;
Aprender a ganhar e perder sem haver conflitos;
Tomar decisões;
Para cada dia da semana será utilizado um valor:
1º Semana:
Segunda - Colaboração
Terça - Amizade
Quarta - Respeito
Quinta - Honestidade e Generosidade
Sexta - Gratidão
2º Semana:
Segunda - Superação
Terça - Cautela
Quarta - Humildade
Quinta - Lealdade
Sexta - Disciplina
Todos os dias antes de começar as aulas será orientado que os pais façam às crianças perguntas sobre seu cotidiano, dando espaço para a expressão inicial, para que quando explicarem a atividade elas possam se concentrar no que foi lhes solicitados. Após este momento, os pais conversarão com as crianças apresentando o que será estudado naquele dia.
Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento com base na BNCC:
(EI05EO01) Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir.
(EI05CG01) Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música.
(EI05TS02) Expressar-se livremente por meio de desenho, pintura, colagem, dobradura e escultura, criando produções bidimensionais e tridimensionais.
(EI03EO03) Ampliar as relações interpessoais, desenvolvendo atitudes de participação e cooperação.
(EI05EO02) Agir de maneira independente, com confiança em suas capacidades, reconhecendo suas conquistas e limitações.
(EI03EO04) Comunicar suas ideias e sentimentos a pessoas e grupos diversos.
(EI03EO06) Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e modos de vida.
(EI03EO07) Usar estratégias pautadas no respeito mútuo para lidar com conflitos nas interações com crianças e adultos.
(EI03EO05) Demonstrar valorização das características de seu corpo e respeitar as características dos outros (crianças e adultos) com os quais convive.
(EI03CG01) Criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música.
(EI03ET04) Registrar observações, manipulações e medidas, usando múltiplas linguagens (desenho, registro por números ou escrita espontânea), em diferentes suportes.
(EI03ET07) Relacionar números às suas respectivas quantidades e identificar o antes, o depois e o entre em uma sequência.
(EI03CG05) Coordenar suas habilidades manuais no atendimento adequado a seus interesses e necessidades em situações diversas.
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